Monday, April 02, 2007

Amor e nada mais

Portrait of Ruth Rivera by Diego Rivera
...
Oh tu, mais doce, mais interminável
que a doçura, namorada carnal
no meio das sombras: tu surges
de outros dias, enchendo de pesado pólen
a tua taça de delícia.
.........................Duma noite cheia
de ultrajes, duma noite como o vinho
desvairado, duma noite de púrpura oxidada,
desabei sobre ti como uma torre ferida,
e entre os pobres lençóis a tua estrela
palpitou contra mim, incendiando o céu.
...
Oh redes do jasmim, oh fogo físico
alimentado nesta nova sombra,
trevas que tocamos apertando
a cintura central, ferindo o tempo
com sanguinárias rajadas de espigas!
...
Amor e nada mais, no vazio
duma bolha, amor com ruas mortas,
amor, quando a vida já morreu,
já nos deixou, incendiando os recantos.
...
Mordi a mulher, afundei-me nela com todas
as minhas forças, entesourei cachos de uva
e avancei de beijo em beijo,
atado às carícias, amarrado
a esta gruta de cabelos frios,
a estas pernas percorridas por lábios:
faminto entre os lábios da terra,
devorando com lábios devorados.
...
Pablo Neruda
(A Estudante - 1923, in Canto General)

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